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S.O.S PS

25 Jul

"Estamos entregues à sorte". É assim que uma auxiliar de enfermagem, de 42 anos, afirma estar vivendo em seu trabalho no Pronto-Socorro Central (PSC) de Bauru. Ela teve que se esconder nos fundos da instituição para não ser esfaqueada. Um problema frequente e muito preocupante, visto que, há mais de um mês, não há vigilantes nas unidades de saúde. Enquanto o município estuda uma solução que já deveria ter saído, os funcionários acabam sendo a "ponta do iceberg" que sofre com os problemas estruturais da saúde pública.

O fato mais recente ocorreu por volta das 17h30 deste domingo. "Este homem estava acompanhando uma paciente. Nem houve demora, mas ele estava muito alterado. Chegou chutando tudo. Quando eu disse para chamarem a polícia, ele veio para cima de mim", conta a mulher, que pediu para ter a identidade preservada.

Ela relata que, no início, havia uma viatura da Polícia Militar (PM) no local. Os policiais até tentaram acalmar o homem, porém, logo que a viatura foi embora, ele fez nova investida contra a vítima. "Desta vez, ele veio com a faca. Além de me xingar, dizia que ia me matar. Tive que correr para os fundos do PS para não ser esfaqueada", conta.

A PM foi novamente acionada e, dessa vez, o homem foi conduzido ao Plantão da Polícia Civil. Foi registrado um boletim de ocorrência (BO) por ameaça e a faca foi apreendida.

E ela não é a única que está assustada. A auxiliar de enfermagem afirma que os problemas são frequentes (leia mais abaixo) e que, por conta disso, o clima de medo e tensão se instalou no local. "Aqui, atendemos todo tipo de gente. Digo sempre que lidamos com a pessoa em seu pior momento, que é a dor. Então, nunca se sabe o que ela é capaz de fazer".

Na semana passada, um cadeirante de 30 anos destruiu a Unidade do Programa de Saúde da Família, no Parque Santa Edwirges, depois que, por conta de um erro, a ambulância do município deixou de levá-lo a uma consulta.

"É uma constante. Têm vezes que as pessoas invadem os consultórios e até pegam fichas de atendimento. Tanto os funcionários quanto os médicos estão com medo de trabalhar", complementa a auxiliar de enfermagem.


Sem vigilantes

A ausência de vigilantes no Pronto-Socorro Central (PSC) e nas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) do Bela Vista e do Mary Dota já se arrasta há mais de um mês. No dia 20 de junho, os serviços foram paralisados.

Na ocasião, a empresa terceirizada Portal Segurança e Vigilância Ltda., de Botucatu, rompeu contrato com a prefeitura depois de atrasar o salário dos vigilantes. O município, porém, afirmou que todos os repasses à empresa foram feitos em dia.

Mesmo tendo ocorrido há mais de um mês, ainda não há qualquer solução. Atualmente, os vigias da prefeitura foram deslocados, entretanto, a atuação deles é bem limitada (leia mais abaixo). O titular da Secretária de Saúde, Fernando Monti, afirma que duas soluções estão sendo estudadas.

"Infelizmente, tudo é muito controlado e demora um pouco. Estamos pensando em, parcial e momentaneamente, fazer um termo aditivo em um contrato já existente e, ao mesmo tempo, abrir um pregão para contratar a nova empresa", completa o secretário.

As duas soluções já foram aventadas quando houve a paralisação, conforme matéria publicada pelo JC em 22 de junho do ano passado. Até agora, não houve qualquer novidade. "Estamos correndo conforme o possível", garante Fernando Monti.


60 dias?

Os dois caminhos apontados pela Secretaria de Saúde para o problema ainda não foram colocados na prática. O mais emergencial - um termo aditivo em um contrato já existente - está, de acordo com o titular da pasta, Fernando Monti, sendo analisado pelo município.

Já a contratação de uma nova empresa deve ocorrer, segundo a previsão do secretário, dentro de cerca de 60 dias. O prazo, entretanto, é o mesmo que foi colocado pelo próprio Monti há mais de um mês.


Só patrimônio

Atualmente, para não dizer que os servidores e até a população das unidades de saúde estão totalmente desprotegidos, foram deslocados vigias da prefeitura para fazer a segurança. Entretanto, conforme explica Fernando Monti, eles não podem intervir em casos de brigas ou agressões.

"A atuação deles é limitada. Eles só podem cuidar das questões patrimoniais. Caso ocorra um problema pessoal desses, eles não podem intervir", confirma o secretário de Saúde.


Outros casos

O problema da saúde pública é algo que vai além dos funcionários. Porém, é frequente ver a fúria da população contra as pontas "visíveis" desse nó. Há exatamente uma semana, Leandro Aparecido de Paula, 30 anos, que é cadeirante, derrubou armários e mesas, e quebrou computadores e vidros da Unidade do Programa de Saúde da Família, no Parque Santa Edwirges. Por um erro do município, ele perdeu uma consulta.

No dia 9 de junho, um motorista de 28 anos atacou a unidade infantil do Pronto-Socorro Central (PSC) depois de esperar quatro horas por atendimento para seu filho. Cinco dias antes, também revoltado com a demora, um homem de 35 anos arremessou um capacete de polícia e danificou uma das portas da Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) do Bela Vista.

Além dos ataques, há também a ação dos vândalos. Na semana passada, a Unidade Básica de Saúde (UBS) do Núcleo Geisel foi invadida e bastante depredada. Na ocasião, o local ficou com parte dos serviços de consulta e entrega de medicação paralisadas por mais de três horas.


Sindicato destaca preocupação com segurança dos servidores

O Sindicato dos Servidores Públicos Municipais (Sinserm) de Bauru reafirmou a preocupação com a segurança dos funcionários que atuam no Pronto-Socorro Central (PSC) e nas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs).

"É uma situação muito arriscada. O ambiente hospitalar é de extremo estresse. Já houve épocas de muitas ocorrências. O problema deu uma acentuada. Porém, sentimos que, sem os vigilantes, a preocupação está voltando", afirma Idelma Corral, uma das diretoras do sindicato.

Por conta dos problemas de estrutura da saúde pública em Bauru, reclamações são frequentes. A principal é, sem dúvida, a demora no atendimento. "E quem acaba %%pagando%% e sofrendo a insatisfação da população são os funcionários", aponta.

Além de afirmar que segurança nas unidades de saúde é um problema que se arrasta há anos e administrações, Idelma afirma que ainda existe muita subnotificação. "Não são todos os casos que vêm a público. Seja em menor ou maior potencial, temos relatos quase diários", completa.

Entretanto, o titular da Secretária de Saúde, Fernando Monti, vê uma frequência bem menor nas ocorrências. "Felizmente, são questões pontuais", afirma.

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