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"Temos que arrumar a casa até a Copa", diz chefe da PM

16 Jan

O comandante-geral da Polícia Militar, coronel Osmar Lino Farias, afirmou que a falta de investimento em Segurança Pública e a grande extensão territorial de Mato Grosso são os maiores obstáculos que a corporação encontra para fazer um combate efetivo à criminalidade em geral.

Em entrevista exclusiva ao MidiaNews, no começo do mês, Farias admitiu que esses problemas "tiram o sono" da cúpula da PM. Para ele, somente com aumento do efetivo e a intensificação do trabalho de Inteligência será possível tornar Mato Grosso um Estado mais seguro.

Farias disse que recebeu do governador a missão de preparar a segurança de Cuiabá para a Copa do Mundo de 2014. "Não sei se serei o comandante até o Mundial, mas, até lá, tempos que arrumar a casa, reduzindo a criminalidade", disse o oficial.

Ele também falou sobre as ações das quadrilhas - o "Novo Cangaço" - no interior e os constantes arrombamentos de caixas eletrônicos.

Confira a seguir os principais trechos da entrevista:

MidiaNews: Na década de 80, Mato Grosso aparecia entre os cinco estados que possuiam as maiores taxas de homicídios. O Mapa da Violência de 2010 mostra que o Estado ocupa a 12ª posição. O que a Polícia Militar tem feito para reduzir esses índices?

Coronel Lino Farias: Essa questão da redução de criminalidade tem sido o nosso calcanhar de Aquiles. Tem me tirado o sono... Sou uma pessoa muito dedicada ao meu trabalho, e os índices tem me preocupado bastante. Eu recebi essa incumbência de preparar a Polícia Militar para a Copa de 2014. Não sei se serei o comandante na época do Mundial, mas tenho que arrumar a casa até lá e reduzir os índices de criminalidade.

Acontece que peguei a PM em uma época que, infelizmente, no meu comando, sem desmerecer a capacidade dos comandantes anteriores, tivemos quase 900 policiais que saíram ativa e foram para a reserva, e foram gozar de sua merecida aposentadoria. Além disso, tivemos muitos policiais que saíram por ter passado em outros concursos, com salários melhores. Acabaram migrando para a Polícia Civil, Judiciário, Secretaria de Fazenda.

Essa análise mostra que tivemos um dos menores efetivos entre os últimos sete anos. Nós chegamos a um patamar de 5.920 policiais. Em contrapartida, o Estado é muito grande, com muitas dificuldades, e tive que administrar tudo isso. Policiais foram remanejados, para solucionar parte do problema.

MidiaNews: Não bastassem esses problemas, surge o "Novo Cangaço", a violenta ação das quadrilhas que assaltam bancos no interior do Estado...

Farias: Em meio a tudo isso, apareceram essa nova modalidade de crime e o "Novo Cangaço", as explosões de caixas eletrônico... Foram várias reuniões com os comandos regionais e tivemos que traçar estratégias para solucionar esse problema. Todos esses problemas nos tiraram muitas noites de sono.

Colniza, Ipiranga do Norte e Várzea Grande são nossas grandes preocupações. Dobramos o efetivo de policiais em Colniza, que continua figurando entre as cidades mais violentas do Brasil. A situação de Colniza é diferente das demais cidades, lá é uma região de fortes conflitos agrários, muitas pessoas aproveitam as três fronteiras. Temos gente do Amazonas, Rondônia do e Pará que correm tudo para cá. Já prendemos pessoas que são procuradas, que até apareceram no programa "Linha Direta" [de cunho policial, da Rede Globo]. Era uma situação de terra sem lei, as pessoas procuraram se esconder lá, devido ao efetivo pequeno. Agora, com o efetivo dobrado, acredito que Colniza não mais aparecerá como as cidades mais violentas.

Em Ipiranga do Norte, também aumentamos o efetivo, com os mesmos fins. Em Várzea Grand,e tivemos um índice muito alto de homicídio. Quando chegamos no início de novembro de 2011, já tínhamos alcançado o mesmo número de todo o ano de 2010.

Então, foram detectados alguns problemas, algumas necessidades. Trocamos alguns comandos, como os de Barra do Garças, Primavera, Cuiabá, Várzea Grande, a fim de solucionar esses problemas. Estamos reduzindo os índices de criminalidade, porém de uma forma muito tímida.

MidiaNews: A falta de efetivo na PM é, por assim dizer, um problema crônico?

Farias: No fim do ano, colocamos 1.200 policiais nas ruas para garantir mais segurança à população. Todos os dias, recebo ligações de comerciantes e moradores que nos agradecem. Mas, é preciso mais policiais nas ruas, para, pelo menos, inibir os criminosos.

Mato Grosso e Brasília eram as únicas Unidades da Federação que não possuíam o policiamento a pé, que traz a tranqüilidade para a população. Pois a segurança você não pega, você não vê, mas você sente.

Aprovamos a lei de fixação do efetivo, onde foi aumentado de 11.500 para 16.666 policiais. Precisamos formar esses policiais, queremos formar pelo menos 1.000 policiais para o próximo ano.

MidiaNews: Os constantes assaltos a bancos têm causado sobrecarga à Polícia Militar, que acaba ocupando o efetivo em buscas, que custam caro e sobrecarregam os policiais. Qual saída a PM tem buscado para resolver o problema?

Farias: Esse problema de assalto acaba sobrando para a Polícia, pois o cidadão sempre cobra do Estado uma providência. Quando estoura um caixa eletrônico, nós que temos que resolver. Mas não podemos colocar policiais em comércios, farmácias, mercados, postos de atendimento... Se fizermos isso, existe a conotação que o Estado estaria trabalhando para a segurança privada.

Caracteriza desvio de função. Temos que trabalhar nos logradouros públicos.
Reduziram-se muito os roubos a caixas eletrônicos. Mapeamos todos os caixas e passamos a fazer rondas constantes. Com isso, os bandidos mudaram algumas estratégias, migraram para o interior, e também o modo de operação. Antes, arrombavam os caixas usando maçarico, que demorava mais tempo, e eram pegos pela polícia. Agora, passaram a usar explosivos, que é mais rápido: em cinco minutos, conseguem explodir um caixa e pegar o dinheiro. Além disso, prendemos 69 quadrilhas de arrombamento a caixas.

Já na modalidade "Novo Cangaço", reunimos todos os Comandos Regionais e traçamos estratégia para impedir as rotas de fugas.

Diante a impossibilidade de colocar 50 policiais por dia em cidades como Colniza, por exemplo, mapeamos as vias de fugas e, em qualquer evento, nós trancmos as vias de fuga. Foi uma estratégia que deu certo. Não evitamos o crime, mas fica mais fácil de prender.

Então, com essa estratégia, prendemos uma quadrilha com 16 pessoas que assaltou um banco na cidade de Tesouro, no ano passado. Tinha até um funcionário público envolvido. Em operação conjunta com o Gaeco, prendemos parte da quadrilha que assaltou um banco em Campo Novo dos Parecis. Também foi presa parte da quadrilha que assaltou em Colniza. O roubo a banco é um crime difícil de se combater.

Mesmo com todas as ocorrências de roubos a bancos que temos, posso afirmar que Mato Grosso ainda esta abaixo das estatísticas nacionais. Estados do Nordeste, atualmente, são as maiores vítimas dessa modalidade Novo Cangaço, com até três assaltos por dia.

Para melhorar essa situação, são necessários, pelo menos, 20 mil policiais, e o Estado não tem condições de cobrir essa demanda, temos que ser realistas. Pois essa demanda acarretaria uma sobrecarga enorme para o Estado e até para nós, policiais, que ficaríamos cada vez mais em situação de desvantagem, em termos de melhoria salarial.

MidiaNews - Mas, a Segurança Pública não deveria ser uma prioridade?

Farias: O Estado ainda não tem condições de priorizar a Segurança. A demanda é muito grande, são várias pastas que necessitam de apoio, são mais de 5 mil quilômetros de estradas sem pavimentação, cidades que não têm ligação asfáltica e que precisam ser pavimentadas.

Então, é certo que a Polícia não consegue fazer a segurança de todos ao bancos, é necessário que as próprias instituições invistam em segurança. Da mesma forma ocorre com as saidinhas de banco: as instituições têm que colocar os biombos. Nas agências onde eles foram instalados, as ocorrências caíram para zero.

Prendemos 44 pessoas que eram especialistas em saidinhas de banco, novamente uma boa parceria com o Gaeco, onde 150 policiais da PM e Bope agiram nessa ação. O crime é endêmico: onde existe o ser humano, existe a criminalidade e a PM sabe que sua função é controlar essa situação.

MidiaNews: A PM de Mato Grosso está preparada para enfrentar os bandidos que usam armas potentes e, agora, estão ousando e abusando do uso de dinamites?

Farias: A questão do uso de dinamite é preocupante, esse material é de uso restrito e nem a Polícia Militar tem autorização para comprar, e muito menos os bandidos. Mas, eles roubam os explosivos. Há pouco tempo, prendemos uma quadrilha que havia roubado uma mineradora em Nobres e levado uma carga de explosivos. O material foi recuperado.

Digo que os policiais de Mato Grosso estão preparados para enfrentar o crime. Pouca gente sabe, mas, no nosso Estado, há o tiro de precisão. Inclusive, preparamos os "snipers", atiradores de elite, para a Polícia de todo o Brasil. Temos os melhores atiradores do Brasil aqui em Mato Grosso, juntamente com a PM de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.

Esses atiradores são homens treinados e que conseguem acertar com precisão um alvo a 300 metros. No nosso batalhão do Bope, temos oito snaipers, sendo que quatro deles são professores de tiro. Além desses oito em atividade, temos mais profissionais que estão em outras funções e que, quando necessário, são convocados para atuar como atiradores de elite.

Recentemente, há cerca de quatro meses, tivemos que fazer um tiro de comprometimento em Várzea Grande, quando haviam se esgotado todas as alternativas de negociação. O sniper entrou em ação e teve que abater o bandido, que havia amarrado a vítima com um botijão de gás e iria explodir.

Hoje temos profissionais especialistas em explosivos, que, além de desativar os artefatos explosivos, fabricam esses artefatos, caso necessite. Temos um tenente do Bope, que acabou de chegar de uma especialização feita na Colômbia. Ele estudou, por um ano e meio, para aprimorar os conhecimentos. Essa é uma das medidas especiais que tivemos que adotar como segurança para a Copa do Mundo de 2014.

MidiaNews: O Serviço de Inteligência da PM é fundamental para combater o crime. Ele tem sido usado com constância:

Farias: Agora, a grande dificuldade é saber onde ira acontecer os crimes e conseguir evitar. Mas, para isso também necessitamos apoio do trabalho de Inteligência, com investigações para conseguirmos nos antecipar aos assaltos.

Muitas vezes, chegamos antes dos bandidos e evitamos assaltos. Temos gravações de quadrilhas. "Aqui está montado um circo e onde tem circo, não trabalhamos. Afinal, não somos palhaços". Essa frase, grampeada, foi dita por um chefe de quadrilha, que percebeu que fechamos o cerco a sua quadrilha e que iríamos pegá-los. Então, eles preferiram se retirar.

MidiaNews: Com relação à corrupção de agentes da Polícia Militar, como o comando avalia essa situação e qual medida vem sendo tomada?

Farias: A postura adotada é a expulsão. O policial militar que é denunciado e tem comprovada a sua culpa é expulso da instituição. Na minha gestão teve, sim, casos de corrupção e não tivemos outra alternativa, senão demitir. Vejo que, atualmente, tem ocorrido menos casos. Eu posso dizer que fiz um trabalho de limpeza.

Se o sujeito não tem compromisso com a instituição, é melhor procurar outra coisa para fazer. Não aceitamos a prerrogativa do baixo salário, que gira em torno de R$ 2 mil para soldado, como uma desculpa para manchar a farda e toda a instituição. Posso dizer que, atualmente, temos muito mais credibilidade do que tínhamos há dois anos e a tendência é melhorar.

MidiaNews: Sobre o tráfico de drogas. Qual a posição da PMr no combate a esse mal, que tem invadido as famílias e fomentado o crime?

Farias: Temos trabalhado com ênfase no combate ao tráfico doméstico. Há um tempo, íamos atrás dos grandes traficantes e nem todos era presos. Um traficante grande que escapava do cerco conseguia abastecer as bocas. Entã,o no combate ao tráfico doméstico, estamos conseguindo tirar as drogas das casas de família. O traficante que mais traz a desgraça social, que mais destrói as famílias, é o pequeno, ele corrompe as pessoas. Esse traficante pequeno leva a droga na cozinha da dona de casa, na porta da escola, na frente da boates.

Traçamos um trabalho forte nesse combate e, em pouco tempo, tivemos mais de 5 mil bocas-de-fumo estouradas em Mato Grosso. É um trabalho intenso e um meta de tem um cuidado especial, a pedido do próprio governador, como Plano de Enfrentamento as Drogas.

MidiaNews: Com relação ao comando da Polícia Militar para 2012, o governador manifestou intenção em mantê-lo na frente da instituição?

Coronel Lino Farias: Esse cargo é do governador, ele me convocou para assumir essa função e tem mostrado satisfação com meu comando. Tenho uma missão especial de preparar a Segurança Pública de Mato Grosso para a Copa de 2014 e temos concentrados os esforços nisso.

Atualmente, há especulações na imprensa que havia três desempregados no Estado e um deles seria eu. Até o momento, não foi manifestada a intenção de me tirar do comando. Eu tenho doado todas as minhas energias no Comando à PM. O governador tem mostrado satisfação com o trabalho de toda a instituição. Nos últimos três meses, nosso trabalho melhorou muito, com a inclusão de novos policiais, e a tendência é melhorar.

Se me perguntarem se vai trocar o Comando, respondo que sim. Afinal, esse cargo não é vitalício, existiram comandantes antes de mim e haverá próximos, é uma trajetória normal.

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