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Trabalhadoras rurais pedem terra própria, melhor escoamento da produção, saúde e educação

18 Ago

Paula Laboissière

Brasília – Uma das milhares de trabalhadoras rurais que participaram ontem (17) da 4ª Marcha das Margaridas, a piauiense Enedina Silva, de 46 anos, diz que a maior dificuldade para quem vive no campo é a falta de terra própria para cultivo. Dos 11 irmãos, apenas ela e duas irmãs conseguiram permanecer na agricultura familiar.

“Meu pai nunca teve terras, sempre trabalhou em terra de terceiros. São pessoas que trabalham e moram naquela propriedade e recebem uma pequena renda sobre o que produzem para o dono das terras”, explicou.

Outro problema, segundo ela, são as condições precárias das estradas que cortam o interior do país. O acesso para escoamento da produção na lavoura ou mesmo para garantir a chegada de caminhões pipa é difícil e compromete o trabalho no campo.

“Produzir é fácil. O difícil é manusear esse alimento para que ele chegue com qualidade ao destino esperado. O alimento tem que chegar sadio, em bom estado, e a gente não tem transporte adequado. Um carro baú é muito caro”, contou.

Dulcinéia Miranda, de 57 anos, vive na Ilha de Marajó (PA) com os quatro filhos e cinco netos, mas enfrenta situações semelhantes às de Enedina. Durante a marcha, ela cobrou políticas públicas que garantam saúde e educação e que reduzam o preconceito contra os trabalhadores rurais.

“Onde moro, só tem o ensino fundamental. Se nós quisermos que os nossos filhos estudem, eles têm que ir para Belém”, disse. “Moramos em áreas ribeirinhas e não há estrutura de saúde mesmo no próprio município”, completou.

Ela criticou ainda a burocracia enfrentada para conseguir documentação que comprove atuação profissional na pesca e que dê acesso a benefícios como o salário-maternidade.

Crescência Hickman, de 62 anos, confirma a falta de investimentos em áreas. Moradora de Itapiranga, interior de Santa Catarina, ela ajuda no sustento da própria família e da dos três filhos, que não querem permanecer na agricultura familiar.

“Vejo que as mulheres estão sobrecarregadas de trabalho em atividades agrícolas como a produção de leite, frango e porco. Tudo isso agrega valor, mas exige muita mão de obra da pequena agricultura familiar. Nossos filhos não ficam no campo, vão estudar, fazer faculdade e não voltam”, afirmou.

Para a coordenadora da 4ª Marcha das Margaridas, Carmen Foro, é impossível listar uma única reivindicação das trabalhadoras rurais reunidas na capital federal – sobretudo quando a manifestação tem como foco o desenvolvimento do país como um todo.

“Infelizmente, o campo brasileiro ficou muito tempo abandonado pelo Estado. É curto o tempo que estamos conseguindo dar visibilidade à nossa pauta. Ainda é necessário que façamos um esforço desse tamanho para dialogar com a sociedade, com o Congresso Nacional, e falar dos problemas que temos. Se a gente não viver bem lá, vamos ser expulsas para as periferias das cidades, e não é isso que queremos”, concluiu.

A organização do movimento esperava a participação de 70 mil trabalhadoras na 4ª Marcha das Margaridas, mas, segundo cálculo da Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal, cerca de 45 mil mulheres estiveram na manifestação.

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