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Estudo do Ipea comprova exclusão bancária no Brasil, avalia Contraf-CUT

12 Jan

O estudo "Sistema de Indicadores de Percepção Social (SIPS) sobre Bancos: exclusão e serviços", lançado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) nesta terça-feira, dia 11, em São Paulo, comprova o processo de exclusão bancária no Brasil, que precisa ser revertido pelos bancos, através da inclusão de milhões de brasileiros com atendimento de qualidade e segurança.

A avaliação é do secretário de Organização do Ramo Financeiro da Contraf-CUT, Miguel Pereira, que acompanhou a apresentação do presidente do Ipea, Márcio Porchmann, e manifestou a visão dos bancários sobre os dados da pesquisa, que foi feita presencialmente, tendo sido ouvidos 2.770 brasileiros em todos os estados do país.

Porchmann afirmou que se trata de um primeiro estudo sobre a relação dos bancos com a população e serve de base para debates e formulações de políticas públicas, a fim de que o marco regulatório venha a representar os reais interesses da sociedade brasileira.

Exclusão social

Segundo a pesquisa, 39,5% da população não possuem conta bancária. Na região Norte, a exclusão é maior: 50% de seus moradores não têm vinculo algum com uma agência. Na região Nordeste, o quadro é ainda pior: esse número salta para 52,6%. Na região Sul, que é a menos excluída, esse percentual é de 30%. "Esses dados mostram que os bancos focam as regiões economicamente mais desenvolvidas, excluindo importantes segmentos da população", denuncia o diretor da Contraf-CUT.

"A oferta do crédito não é vista como a principal função do sistema financeiro", aponta Miguel. Para 62,1% dos entrevistados, as principais ações do atendimento bancário são a movimentação e o depósito de dinheiro. Para 29,5%, o papel de um banco é ofertar produtos e serviços. Somente 4,5% dos brasileiros veem as instituições financeiras como o lugar para emprestar dinheiro, o que é um índice muito baixo.

Em relação aos grupos de renda, a função de oferecer financiamentos é mencionada por 7,1% das pessoas com renda acima de 20 salários mínimos, o que representa a maior pontuação entre as faixas analisadas. Depois, o crédito é mais mencionado pelos grupos que ganham até dois salários mínimos, com 5% de representação, e entre aqueles que ganham de dois a cinco mínimos, com 4,8%.

Conforme o relatório do Ipea, se for levado em conta o sexo, os homens dão maior importância à função de concessão de crédito do que as mulheres: 5,4% e 3,6%, respectivamente. Quanto à idade, 3,5% das pessoas entre 18 e 24 anos apontam o empréstimo de dinheiro como a principal função, enquanto o percentual sobe para 6,6% entre os ouvidos com mais de 54 anos.

"Esses indicadores, que revelam a pouca importância do crédito, não surpreendem, na medida em que os bancos vivem fazendo propaganda da sua imagem, associando-a diferentes temas, como a preservação do planeta, deixando de priorizar a principal atividade do sistema financeiro, que é oferecer crédito barato e acessível para fomentar a economia e o desenvolvimento econômico e social", ressalta Miguel.

"Alguns dados, como os que se referem à segurança e ao horário de atendimento, não levaram em consideração a forma de relacionamento com os bancos", alerta o dirigente da Contraf-CUT. Hoje, a maioria das operações bancárias é realizada pela internet, o que significa que muitos clientes desconhecem a prestação dos serviços nas agências e postos. Essa realidade explica porque a segurança nas unidades satisfaz 78% dos clientes, enquanto 13,7% estão muito insatisfeitos ou insatisfeitos com a proteção oferecida pelos bancos. Isso também justifica porque 65,1% dos entrevistados se mostram satisfeitos ou muito satisfeitos com o reduzido tempo de expediente ao público.

Outro banco é preciso

Para Miguel, a realização de uma pesquisa dessa natureza, apesar da falta de profundidade em determinadas perguntas que comprometem alguns resultados, ajuda certamente trabalhadores e clientes nos debates sobre o papel dos bancos e a sua relação com a sociedade. Os principais dados do estudo comprovam que os bancos não priorizam a prática de intermediação financeira.

"Captar de quem tem dinheiro para emprestar para quem não tem. Ou seja, os bancos no Brasil não funcionam como banco, pois não cumprem a função clássica da razão de sua existência. Neste formato atual ajudam muito pouco o país e as pessoas a prosperarem. Isso em relação às pessoas físicas e jurídicas, eis que as empresas também não encontram crédito ou, quando encontram, são a taxas exorbitantes", denunciou.

"Apesar de todo marco regulatório existente no Brasil, a partir da lei 4.595/64, das resoluções do Banco Central e do Conselho Monetário Nacional, as instituições financeiras acabam definindo as áreas de atuação de mercado mais rentáveis para sua atuação e abandonando qualquer sentido de utilização pública dos recursos da sociedade que abarrotam seus cofres e garantem, ano após ano, os maiores lucros da economia", ressaltou Miguel.

"Todos os atores sociais devem aproveitar esse tipo de estudo para debater se é esse tipo de banco que a sociedade brasileira necessita ou se urge a regulamentação nos moldes dos princípios estabelecidos na Constituição Federal, em seu artigo 192, que determina que o sistema financeiro nacional deverá estar voltado para o desenvolvimento nacional", concluiu o diretor da Contraf-CUT.

Idec alerta para precarização do atendimento

A representante do IDEC, Lisa Gunn, avaliou como "parcial" o resultado da pesquisa, uma vez que os itens incluídos na consulta são muito restritos e contrastam com as inúmeras reclamações e os processos movidos por clientes e usuários nos Procons e no Banco Central.

As maiores queixas são relacionadas a serviços fornecidos sem solicitação, tais como envio de cartões de crédito, além de tarifas debitadas indevidamente, falta de fornecimento de cópias dos contratos, pouca informação e filas intermináveis, dentre outras.

"Quanto ao fato de apenas 4,5% dos clientes dizerem que os bancos servem para emprestar dinheiro, isso denota o pouco conhecimento sobre o sistema financeiro por parte da população, pois a maioria das pessoas não sabe que os bancos estão por trás dos financiamentos de automóveis, eletrodomésticos, roupas, das grandes redes do comércio varejista brasileiro", disse Gunn.

Em relação ao processo de inclusão bancária, a representante do Idec considerou o processo como "precarizante", uma vez que as iniciativas estão ocorrendo via os correspondentes bancários. "Se os clientes já não possuem as informações necessárias numa instituição financeira, o que dirá numa lotérica, farmácia ou supermercado, além da precarização das condições de trabalho e de salários", observou.


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