Humilhação e vergonha são produtos de relações individuais entre empregados e patrões, por Valeir Ertle
04 Mai
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por Valeir Ertle
Nesta semana, em diversas regiões do país, trabalhadoras e trabalhadores se postaram de joelhos nas ruas e avenidas orando e clamando pela reabertura das atividades comerciais, sob imposição dos patrões.
Sugiro aos parlamentares de todos os partidos e aos ministros do Supremo Tribunal Federal que, mesmo tardiamente, vejam as consequências de suas decisões. As humilhações impostas pela classe patronal, revelam cenas de submissão, que ocorrem quando o trabalhador ou trabalhadora se apresenta individualmente frente ao patrão, sem a devida proteção de seus sindicatos.
Como muito bem escreveu o jurista Wilson Ramos Filho (Xixo), para a classe patronal “não basta explorar os trabalhadores, é necessário humilhá-los, fazer com que se curvem, se ajoelhem para preservar seus empregos”.
A classe trabalhadora e suas organizações sindicais têm agido de forma civilizada, discutindo, dialogando e apresentando suas razões no parlamento e nos tribunais, mas cresce a percepção de que diante de violências como estas serão necessárias reações à altura.
Todos estamos assustados e sofrendo com as vidas que o Brasil tem perdido com a pandemia do Covid 19. A postura irresponsável do governo federal que desprezou a gravidade da situação está resultando, não apenas em um crescimento assustador da contaminação e das mortes, mas também na superlotação dos hospitais. Em alguns estados já não há respiradores suficientes e as UTIs estão lotadas.
Dirijo-me, portanto aos parlamentares e integrantes do Poder Judiciário para lhes chamar a atenção sobre as consequências de suas decisões, tomadas sem considerar os argumentos apresentados pelos sindicalistas e advogados dos trabalhadores.
Estas manifestações são organizadas por empregadores que tratam seus trabalhadores como coisas sem alma, que podem ser usadas para todo e qualquer tipo de atividade que favoreçam seus interesses e propiciem condições adequadas para acumularem riqueza.
Acordos individuais são realizados aos milhares, pois a situação é dramática. Desamparados os trabalhadores não têm como se livrar de acordos individuais com retirada de direitos e remunerações rebaixadas. E ainda por cima, a classe patronal oferece esta cena lamentável. Trabalhadores e trabalhadoras uniformizados, se postam de joelhos, em frente às lojas, para pedir em posição de oração, reabertura assassina do comércio em um Estado que já tem o sistema hospitalar em colapso. Lugar onde nem todos que se apresentam contaminados conseguem respiradores e internamento adequado para enfrentar este forte vírus, chamado por Bolsonaro de “gripezinha”.
Está certo o jurista e professor de direito Wilson Ramos Filho (Xixo): a classe patronal expôs com esta atitude “o capitalismo como ele realmente é, sem mediações, sem ocultação ideológica”. Até quando vamos resistir de forma passiva a essas agressões? Até quando veremos nossa gente ser submetida a humilhações como essas?
Valeir Ertle – Secretário Nacional de Assuntos Jurídicos da CUT e integrante da Associação Brasileira de Juristas pela Democracia (ABJD)